Resumo Neste texto, examino os estudos sobre imigrantes no Brasil produzidos nas ciências sociais brasileiras entre as décadas de 1940 e 1960. Exploro a dinâmica de relações que contribuiu para a realização desses estudos, considerando as atividades de certos intelectuais que tiveram centralidade naquele contexto, a formação de redes internacionais de pesquisadores e os conteúdos teórico-metodológicos que ali foram produzidos e mobilizados. Argumento que dois movimentos situados no pós-guerra exerceram grande impacto nos quadros de análise da questão migratória nas ciências sociais brasileiras: a internacionalização do debate acadêmico-científico e as disputas entre diferentes projetos acadêmicos. Especificamente, são consideradas tanto a participação brasileira em iniciativas de estudos sobre imigração patrocinadas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), quanto as críticas dirigidas aos estudos de comunidades produzidas nas ciências sociais paulistas. Esses dois movimentos impactaram diretamente nos esquemas analíticos propugnados por cientistas sociais, ao redefinirem a condição do imigrante e estimularem o estabelecimento de novos parâmetros para o estudo das relações étnico-raciais. O artigo pretende ampliar o entendimento atualmente disponível sobre a constituição desse eixo temático de estudos, historicamente voltado à discussão de temas candentes à sociedade brasileira, como o preconceito, o racismo, a segregação, a inclusão social, a democracia e a identidade nacional.
Abstract In this article, I examine the studies on immigrants in Brazil, produced in the Brazilian social sciences between the 1940s and 1960s. I explore the dynamics of relationships that contributed to the production of these studies, considering the activities of some intellectuals that had a central role in that context, the formation of international networks of researchers and the theoretical-methodological content produced and mobilized there. It is argued that two post-war movements had a great impact on the analysis of the migratory issue in the Brazilian social sciences: the internationalization of the academic-scientific debate and the disputes between different academic projects. In particular, both the Brazilian participation in immigration studies initiatives sponsored by the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) and the criticisms directed at the studies of communities produced in the social sciences of São Paulo are considered here. These two movements have directly impacted on the analytical frameworks advocated by social scientists, by redefining the condition of the immigrant and encouraging the establishment of new parameters for the study of ethnic-racial relations. The article intends to broaden the understanding currently available on the constitution of this field of studies historically focused on the discussion of themes so controversial in Brazilian society, such as prejudice, racism, segregation, social inclusion, democracy and national identity.