Resumo Este artigo ancora-se na premissa de que a relação entre políticas públicas, vulnerabilidade, sofrimento humano e negligência de pessoas e territórios merece ser questionada e melhor entendida. Um de seus principais pressupostos é a aposta em pontes de diálogos na produção de conhecimentos em saúde, em diferentes quadros de referência - paradigma biomédico; determinação social da saúde; vulnerabilidade social; aportes descoloniais. É fruto de estudo dedicado a acompanhar as práticas de saúde em territórios negligenciados e vulnerabilizados na cidade do Rio de Janeiro, em especial às pessoas que vivem em moradias precárias e em situação de rua. Diferentes encontros e modos de levar a vida, na feitura de cotidianos possíveis, foram vivenciados. Esses encontros forneceram elementos ao entendimento da saúde como valor social em situações concretas, pondo em questão, sob variadas leituras, a vulnerabilização de vidas humanas. Fala-se, portanto, sobre leituras críticas acerca de formas de estar no mundo, dialogicamente relacionadas às condições históricas, políticas e sociais, em que reside a aposta na resistência e nas ações cotidianas de diversos atores sociais e em dispositivos de saúde inovadores, que tenham potencial na efetivação de práticas contra-hegemônicas.
Abstract This article is anchored on the premise that the relationship between public policies, vulnerability, human suffering and neglect of people and territories deserves to be questioned and better understood. One of its main assumptions is the bet on dialogues bridges in the production of health knowledge, through different frames of reference - biomedical paradigm; social determination of health; social vulnerability; decolonial contributions. It is the result of a study dedicated to monitor health practices in neglected and vulnerable areas in the city of Rio de Janeiro, Brazil, especially to people living in precarious houses and homeless people. Different encounters and ways of taking life, in the making of possible daily life, were experienced. These encounters provided elements for the understanding of health as a social value in concrete situations, bringing into question, under various readings, the vulnerability of human lives. There is talk, therefore, of critical readings about ways of being in the world, dialogically related to historical, political and social conditions, in which lies the bet on resistance and daily actions of various social actors and innovative health devices that have potential in the making of anti-hegemonic practices.