Resumo O trabalho remoto atingiu 11% da população ocupada do Brasil no contexto da pandemia da COVID-19: uma maioria de mulheres, pessoas brancas, com nível superior de escolaridade, e atuantes no setor de educação e serviços. Esse perfil é distinto do padrão predominante de trabalhadores em domicílio: mulheres negras com baixo nível de escolaridade e atuantes na indústria de transformação. Mas, ao revisar os dados da PNAD entre 1992 e 2019, encontramos algumas transformações nos setores da economia e atividades ocupacionais realizados em domicílio, bem como uma mudança no perfil do trabalhador em domicílio: crescimento na participação de homens com maior nível de escolaridade e remuneração e atuantes no setor de serviços e de comunicação. Defendemos, neste artigo, que essas mudanças no trabalho em domicílio observadas na pré-pandemia contribuem para compreender o espaço que o trabalho remoto ganhou durante e após a pandemia para se fortalecer enquanto modalidade de trabalho e se justificar enquanto alternativa de organização de espaço de trabalho.
Abstract Remote work reached 11% of Brazil's employed population in the context of the COVID-19 pandemic: the majority being women, white individuals with higher education levels, and working in the education and services sectors. This profile is distinct from the predominant pattern of home-based workers: black women with lower education levels and working in the manufacturing industry. However, upon reviewing PNAD data from 1992 to 2019, we found some transformations in home-based economic sectors and occupational activities. Additionally, there has been a shift in the profile of home-based workers: an increase in the participation of men with higher education and income levels, working in the services and communication sectors. In this article, we argue that these pre-pandemic changes in home-based work contribute to understanding the space that remote work has gained during and after the pandemic to strengthen itself as a work modality and justify itself as an alternative for organizing workspaces.
Resumé Le télétravail à domicile a atteint 11% de la population occupée du pays dans le contexte de la pandémie de COVID-19. Il s'agissait en majorité de femmes, de personnes blanches, diplômées de l'enseignement supérieur, et travaillant dans les secteurs des services et de la communication. La réalité des télétravailleurs à domicile est différente de celle de la plupart des travailleurs à domicile d'avant la pandémie: femmes noires, peu scolarisées et travaillant dans l'industrie manufacturière. Cependant, en examinant les données du PNAD entre 1992 et 2019, on peut observer la croissance, dans ce type de travail, de la participation des hommes ayant une formation et une rémunération supérieures et travaillant dans les secteurs des services et de la communication. En ce sens, bien que le travail à domicile ait peu varié dans le période, certaines tendances d'évolution de ce type de travail se dégagent des données, réalisées à domicile et sur le profil du travailleur à domicile. Nous comprenons que ces changements observés dans la pré pandémie contribuent à comprendre l'espace que le télétravail à domicile a gagné dans la pandémie, à se renforcer comme modalité de travail et à se justifier comme alternative pour organiser l'espace de travail.