Resumo Este artigo busca apresentar, por meio da descrição etnográfica, o processo histórico e político de formação de uma comunidade rural, a Tiririca dos Crioulos, autoidentificada ‘quilombo-indígena’, no sertão do São Francisco, em Pernambuco, nordeste do Brasil. Do ponto de vista jurídico, a Carta Constitucional de 1988 define as categorias identitárias indígenas e quilombolas em sujeitos de direitos distintos. Todavia, a realidade empírica demonstra o quanto as formas de resistência à colonialidade do poder, tal como propõe Aníbal Quijano, são bem mais amplas e complexas: resultam em heterodoxias desafiadoras ao Estado colonial brasileiro confrontando poderes locais. Pensar quilombo-indígena como categoria local de resistência implica questionar as categorias jurídico-políticas coloniais. Ao mesmo tempo, parece desafiar à formulação de políticas públicas - incluindo nelas o reconhecimento territorial. Apoiados em Frantz Fanon e nas teorias decoloniais (Arturo Escobar; Rita Segato; Walter Mignolo) o texto objetiva contribuir para o debate antropológico acerca das mais variadas formas de resistências sustentadas pela pluralidade histórica e de luta partilhada para a defesa do território.
Resumen A partir de la descripción etnográfica, este artículo se enfoca en el proceso histórico y político de formación de la comunidad rural Tiririca dos Crioulos, autoidentificada quilombola-indígena, y situada en el Sertão pernambucano de São Francisco (nordeste brasileño). Desde el punto de vista jurídico, la Constitución de 1988 define las categorías identitarias indígenas y quilombolas en sujetos de derecho distintos. Sin embargo, en términos empíricos, resulta evidente que, como propone Aníbal Quijano, las formas de resistencia a la colonialidad del poder son más amplias y complejas; resultan en heterodoxias desafíantes al Estado colonial brasileño y confrontan los poderes locales. Pensar en quilombo indígena como categoria local resistencia significa cuestionar las categorías jurídico-políticas coloniales, al mismo tiempo se constituye en un desafío para la formulación de políticas públicas y para el reconocimiento territorial. Apoyados en Frantz Fanon y en las teorías decoloniales (Arturo Escobar; Rita Segato; Walter Mignolo), este texto tiene por objetivo contribuir al debate antropológico sobre las diversas formas de resistencia sustentadas en la pluralidad histórica y de lucha compartida para la defensa del territorio.
Abstract This paper aims to present, from the ethnographic description, the historical and political process of constitution of a rural black community, the Tiririca dos Crioulos, which self-identifies as an 'indigenous quilombo', in the “sertão” of São Francisco in Pernambuco State (Northeast Brazil). From a legal point of view, the 1988 Constitution recognizes indigenous and quilombola identity as categories of subjects with distinguishing rights. However, empirical reality shows that the forms of resistance facing the coloniality of power, as proposed by Aníbal Quijano, are much broader and more complex; it results in heterodoxies that challenge the Brazilian colonial state, and confront local powers. Thinking indigenous quilombos as a local category of resistance implies questioning colonial legal-political categories and unfolds the State's challenges to formulate public policies, including territorial recognition. From this specific case, based on Frantz Fanon and decolonial theories (Arturo Escobar; Rita Segato; Walter Mignolo), the text aims to contribute to the anthropological debate about the most varied forms of resistance. Moreover, they are supported by the historical plurality and the shared struggle for the defense of the territory.