RESUMO Esse artigo apresenta parte do material de pesquisa oriundo da minha tese de doutorado, desenvolvido junto à comunidade kilombola Morada da Paz, também conhecida como Território de Mãe Preta. A comunidade está localizada na zona rural do município de Triunfo/RS e é formada majoritariamente por mulheres negras. Caracteriza-se por ser uma comunidade espiritual que segue as orientações de uma preta-velha, Mãe Preta, e um exu, Seu Sete. Foi com as mais velhas da comunidade, reconhecidas como Yas e Baba, que aprendi sobre o conceito de ocupação. O intuito aqui é recuperar esse conceito, apresentando suas singularidades na relação com outros entendimentos de ocupação. Argumento, por fim, que, assim como as “retomadas” indígenas e a “reativação” das bruxas neopagãs estadunidenses, a ocupação elaborada pela Morada, é também uma “receita de resistência” contra as investidas coloniais e capitalistas.
ABSTRACT This article presents part of the research material from my doctoral dissertation, developed with the Morada da Paz kilombola community, also known as the Territory of Mãe Preta. The community is located in the rural area of Triunfo, in the state of Rio Grande do Sul, and is formed mainly by black women. It is characterized by being a spiritual community that follows the guidelines of a preta velha, Mãe Preta, and an exu, Seu Sete. It was from the elders in the community, recognized as Yas and Baba, which I learned about the concept of occupation. The aim here is to recover this concept, presenting its singularities in relation to other understandings of occupation. Finally, I argue that, like the indigenous “retakes” and the “reclaim” of American neo-pagan witches, the occupation elaborated by Morada is also a “recipe for resistance” against colonial and capitalist attacks.