INTRODUCÃO: A hepatite C é uma das principais causas de doença hepática em todo mundo. Apresenta um curso evolutivo dinâmico e influenciável por diversos co-fatores. Dentre eles, a infecção pregressa pelo vírus B (anti-HBcAg [+] e HBsAg [-]) tem se associado a pior prognóstico histológico e terapêutico. Este trabalho teve como objetivo analisar a associação entre a infecção pregressa pelo vírus B e fibrose hepática em portadores de hepatite C crônica, de maneira independente. MÉTODOS: Foram revistos retrospectivamente prontuários médicos de pacientes infectados cronicamente pelo vírus C, atendidos consecutivamente durante um ano no ambulatório de Doenças Infecciosas e Parasitárias - HC FMUSP, quanto aos dados epidemiológicos, clínicos, laboratoriais e histológicos. A análise de independência do impacto da infecção pregressa pelo vírus B foi realizada através de modelo estatístico de regressão logística multivariado, considerando a detecção do anti-HBcAg como variável de exposição, sendo o desfecho a alteração estrutural histopatológica graus 3 e 4 (septos com formação de nódulos e cirrose).0 RESULTADOS: 145 indivíduos foram avaliados pelo estudo, 47.2% com anti-HBcAg (+). O fator de risco mais comumente relatado foi transfusão de sangue e hemoderivados (35,9%). Embora necrose em saca-bocado tenha sido encontrada com maior frequência no grupo de infecção pregressa, a sorologia anti-HBcAg (+) não se associou à fibrose hepática avançada. CONCLUSÕES: A infecção pregressa pelo vírus B não parece acentuar a lesão estrutural desencadeada pela hepatite C crônica, após controle estatístico para outros co-fatores sabidamente capazes de influenciar a história natural desta infecção.
INTRODUCTION: Hepatitis C is a major cause of liver disease worldwide. Its evolutionary course is dynamics and may be influenced by several cofactors. Among them, previous hepatitis B virus infection (anti-HBcAg [+] and HBsAg [-]) has been associated with worse histological and therapeutic prognosis. This study had the objective of independently assessing the relationship between previous hepatitis B infection and liver fibrosis in patients with chronic hepatitis C. METHODS: The medical records of patients chronically infected with the hepatitis C virus who had been seen consecutively during a one-year period at the infectious and parasitic diseases outpatient clinic of HC FMUSP were retrospectively reviewed in relation to epidemiological, clinical and histological data. Analysis on the independence of the previous hepatitis B infection was performed using the statistical model of multivariate logistic regression. Detection of anti-HBcAg was taken to be the independent variable. The outcome was taken to be grade 3 and 4 histopathological abnormality (septa with nodule formation and cirrhosis). RESULTS: 145 subjects were evaluated in this study. 47.2% of them were anti-HBcAg (+). The main risk factor for infection was blood and blood derivative transfusion (35.9%). Findings of anti-HBcAg (+) were not related to advanced liver fibrosis, although piecemeal necrosis has been found frequently in patients with this serological marker. CONCLUSIONS: Previous hepatitis B infection does not seem to increase the structural liver damage triggered by chronic hepatitis C virus infection, after statistical control for other co-factors capable to impact the natural history of this infection.