Resumo: Mediante registros de batismo da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de fins do século XVIII, o artigo analisa aspectos da escravidão urbana em Luanda. Salienta que, em um contexto marcadamente impactado pelo tráfico atlântico de cativos, o batismo e o compadrio serviram aos pais, sobretudo às mães, como profilaxia política contra a deportação por meio do comércio de cativos. O simples fato de ser batizado e de receber nome cristão diferenciava os batizados e seus genitores das milhares de cabeças e crias que não recebiam nomes cristãos no ritual do batismo, posto que eram destinadas ao tráfico atlântico de cativos. Isto significa que a hierarquia escravista se manifestou explicitamente nas formas de nomeação cristãs. Assim, não obstante suas dimensões religiosas, católicas ou não, o batismo e o compadrio (re)definiam estatutos jurídico-sociais na cidade, diferenciavam livres de forros e escravos e podiam levar à alforria. Conclui-se que o cristianismo católico, a escravidão em Luanda e o comércio atlântico de cativos estavam umbilicalmente ligados.
Abstract Based on baptismal records from Luanda’s Parish of Nossa Senhora Conceição, this paper analyzes urban slavery in Angola’s main slave port in the late eighteenth century. Against the backdrop of the transatlantic slave trade, we argue that baptism and godparenting ties served as strategies for African women to evade deportation to Brazil through the slave trade. Baptism and the use of Christian names set Luanda’s enslaved population apart from enslaved Africans shipped abroad, who were neither baptized nor received Christian names because they were destined for the Atlantic slave trade. Naming patterns reveal a hierarchy within the system of slavery, as demonstrated by baptism and godparenting records, which (re)defined judicial and social statuses in Luanda and differentiated free people from freed and enslaved Africans. As this article demonstrates, Christianity, slavery and the Atlantic slave trade were intimately connected in Luanda.