Resumo: Dentro dos ditames de uma sociedade católica e escravista, o compadrio foi uma das formas de associação que os africanos e seus descendentes encontraram para (re)signifcar suas vidas e tornar menos dolorosa a experiência do cativeiro. Nesse sentido, este artigo tem por objetivo o estudo dos laços de compadrio a partir do batismo de escravos, com foco na documentação produzida em Rio Grande, porto ao sul do Brasil que mantinha relações econômicas e sociais com diversas partes do Atlântico, entre 1780 e 1850. Foi possível observar que a busca pelo batismo não respondia apenas à norma eclesiástica. Da mesma forma, identificamos mudanças no padrão do compadrio ao longo do tempo, com algumas diferenças interessantes entre a tendência geral e o compadrio de africanos em particular. Por fim, o compadrio, além de produzir relações sociais diversas, podia potencializar as chances de obtenção da liberdade.
Abstract: Within the norms of a Catholic slave society, the compadrio (godparenthood) was one of the forms of association that Africans and their descendants found to (re)signify their lives and make the experience of captivity less excruciating. In this article, I study the bonds of compadrio - registered during the baptismal cerimonies of slaves between 1780 and 1850 -, focusing on the documentation produced in Rio Grande, a port city in southern Brazil that maintained economic and social relations with various parts of the Atlantic. In my analysis, I found that the search for baptism did not respond only to the ecclesiastical norm. Likewise, I was able to identify changes in the pattern of compadrio over time, with some remarkable differences between the general trend (from free, freed, and enslaved Brazilians) and the compadrio established by Africans in particular. Finally, I show that compadrio, in addition to diversify social relationships, was a way that enslaved Africans used to enhance their chances of obtaining freedom.