This article is a debate on research that deals with categories pre-defined in the public agenda. It is supported by an experience of doing an anthropological study for the Tupinambá of Olivença aimed at the identification of a juridical category of “indigenous land” defined by the 1988 Constitution of Brazil. The main argument developed in this article starts with the assumption that in the contemporary situation the definition of public categories that involves cultural and social rights of minorities, such as terra indígena, have been defined in public debates in which anthropologists were involved. One of the necessary results of such a situation is that anthropology cannot see these categories as exogenous concepts to be criticized, but as categories of knowledge to be addressed. A detailed proposition of how I have addressed the issue concerning the delimitation of the seacoast border of the indigenous land of the Tupinambá of Olivença is here developed, showing how ethnography in anthropology is a particularly good device to achieve this challenges. Through the Tupinambá case, it is showed how ethnography as situated knowledge, enmeshed in a comparative project and prepared to incorporate the struggles that people face when dealing with conflict situations, intertwines public and indigenous definitions of social categories (in this case, the land) through what is here named compatible agendas.
Neste artigo proponho uma forma de a antropologia lidar com investigação sobre categorias de conhecimento que foram definidas previamente na agenda pública. A reflexão sustenta-se na experiência de realizar um estudo antropológico a pedido dos índios tupinambá de Olivença, sob contratação do governo brasileiro, com o objectivo da delimitação de uma área de território definida na Constituição Brasileira como “terra indígena”. O argumento desenvolvido neste artigo parte da ideia de que a definição pública de categorias como a “terra indígena” já não é “prévia” à antropologia, na medida em que, na situação contemporânea, a definição do que é e como se define a “terra indígena” resulta de um longo debate público no qual a antropologia esteve directamente envolvida. Sendo assim, a antropologia é necessariamente responsável por encontrar um enfoque ajustado que não passe por considerar tais definições como objectos exógenos. A produção actual de etnografia como “conhecimento situado” oferece condições muito ajustadas para este enfoque, já que permite entrelaçar definições indígenas e públicas de categorias sociais (neste caso, a terra) que alcancem agendas compatíveis. A etnografia como “conhecimento situado” é aqui apresentada como um projecto de conhecimento empírico e comparativo, capaz de incorporar a luta e conflitos implicados em processos como os da restituição de direitos sobre a terra.