Resumo Neste artigo, reflito sobre os efeitos da reurbanização da região portuária carioca sobre o Afoxé Filhos de Gandhi, bloco carnavalesco referenciado nas práticas do candomblé. Busco compreender como o bloco organizou um pleito de reconhecimento patrimonial a partir da construção narrativa da Pequena África na tentativa de regularizar e reformar o sobrado de sua sede de ensaios, mas não encontrou apoio governamental ou privado porque o imóvel foi classificado como "em ruínas e invadido". Exploro a hipótese de que o não reconhecimento se deveu, por um lado, ao fato de que esses setores privilegiaram investir em narrativas sobre um passado mítico relacionado à oralidade e à religiosidade africanas, o que dissociava as ações patrimoniais e turísticas das demandas habitacionais do tempo presente. Mas se deveu também a disputas dos integrantes do bloco sobre suas concepções de patrimônio, que reverberavam diferentes experiências e memórias coletivas do "povo do santo".
Resumen En este artículo reflexiono sobre los efectos de la reurbanización de la región portuaria carioca sobre el Afoxé Filhos de Gandhi, bloco carnavalesco referenciado en las prácticas de candomblé. Busco comprender como el bloco organizó un pleito de reconocimiento patrimonial a partir de la construcción narrativa de la Pequeña África en el intento de regularizar y reformar la terraza de su sede de ensayos, pero no encontró apoyo gubernamental o privado porque el inmueble fue clasificado como "en ruinas e invadido". Exploro la hipótesis de que el no reconocimiento se debió, por un lado, al hecho de que estos sectores privilegiaron invertir en narrativas sobre un pasado mítico relacionado a la oralidad y la religiosidad africanas, lo que disociaba las acciones patrimoniales y turísticas de las demandas habitacionales del tiempo presente. Pero se debió también a disputas de los integrantes del bloco sobre sus concepciones de patrimonio, que reverberaban diferentes experiencias y memorias colectivas del "pueblo de santo".
Abstract In this article, I reflect on the effects of the reurbanization of Rio's port area on the Afoxé Filhos de Gandhi, a carnival group rooted in Candomblé practices. I seek to understand how the group prepared a claim to heritage status through the narrative construction of 'Little Africa', in an attempt to regulate and reform the large house they were based in. However, they met with no government or private support because the property was classified as "ruined and occupied". I explore the hypothesis that this non-recognition was partly due to the fact that these sectors invested in narratives about a mythical past related to orality and African religion, which dissociated heritage and tourism from the housing demands of the present. But it was also due to internal disputes within the group's membership about their own concepts of heritage, disputes that, in turn, reverberated different experiences and collective memories of the "holy people".